ATB - Aliança Transformers Brasil

CrashJones

Autora: RITA MARIA FELIX DA SILVA


Nota legal: Os direitos autorais de Megatron, Optimus Prime, Autobots, Decepticons e demais personagens e conceitos relacionados pertencem a Hasbro Inc. Esta história foi escrita, unicamente, para fins culturais, sem qualquer objetivo financeiro ou lucrativo - portanto, nenhuma forma de comércio ou ganho está sendo praticada aqui.

Prólogo

Previsivelmente, as facções que compõem minha espécie divergem sobre quem seria o maior guerreiro de nossa raça: os Decepticons aclamam Megatron, enquanto os Autobots defendem o direito de Optimus Prime a esse título. Porém, todos eles estão enganados.

Cerca de cento e cinqüenta metros no solo abaixo da base Decepticon, há um grande laboratório abandonado, que nós chamamos de “Câmara Mortuária”. É nele que está guardado o Tecnogod.

Nossas lendas contam que ele foi o mais poderoso Decepticon que já existiu e o melhor guerreiro Transformer em nossos registros. Por alguma razão, até hoje inexplicada, ele chegou ao planeta Terra bem antes de todos os outros e - numa seqüência de eventos que permanece obscura - acabou enterrado, em hibernação, no continente que os humanos chamam de África.

Quando, no século XX, a guerra contra os Autobots atingiu este mundo, Megatron escutou rumores que levaram os Decepticons a uma tribo humana, cujos membros adoravam “um deus adormecido debaixo da terra”. O Tecnogod foi resgatado - ao custo de um lamentável massacre, pelo que ouvi dizer.

Megatron ansiava reanimá-lo, pois teria em mãos a arma para esmagar Optimus Prime. Todavia, nosso inimigo se mostrou mais capaz do que se podia julgar. O projeto foi sabotado e todos os circuitos internos do Tecnogod foram obliterados para sempre.

Assim me contaram, pois tudo isso foi anterior a minha existência... Nenhum dos outros vem mais aqui, onde a carcaça inútil do Tecnogod repousa esquecida para sempre. Mas não por mim. Sempre volto a este lugar e - dada a minha natureza solitária - falo com ele, que, obviamente, não me ouve, nem responde. Sim, como todas as criaturas racionais, há momentos em que preciso de alguém me escutando. Hoje é um desses dias.

“Saudações, Tecnogod! Tenho novidades para contar! - digo e aguardo um momento, como se alguma parte minha acreditasse que ele está prestando atenção - Abençoada seja a Grande Mente e também os deuses dos humanos! Acabo de obter a primeira de minhas maiores vitórias. Hunf! Quão tolo eu pareço ser? Estou exultante, como um Decepticon em sua primeira batalha... Ou uma criança humana ansiosa por um novo brinquedo.

Há alguns minutos, eu estava na base Decepticon, na sala do trono, diante de Lorde Megatron, nosso mestre absoluto, que estava rodeado por meus companheiros. Aos pés de nosso líder, curvei-me humildemente e estendi para ele a oferenda que colhi em uma terrível batalha. Nosso mestre sorriu satisfeito, ao reconhecer do que se tratava, mas pediu uma explicação. Meditei por um instante, em minha própria história e depois comecei...”

Eu sou CrashJones, um Decepticon, e o mais leal servo de Megatron. Não nasci em Cybertron. Fui criado pelos cientistas de meu mestre aqui, nesse planeta Terra. Poucos deste mundo sabem, mas não ser natural de Cybertron é motivo de escárnio entre Decepticons e Autobots. Para humilhar-me, os outros me nomearam como CrashJones, uma designação por demais humana, pois acusavam-me de lembrar demais os humanos e, portanto, indigno de ser um Transformer.

Em resposta, esforcei-me para me tornar mais forte e cruel do que todos eles e hoje ainda me olham com desprezo, mas também inveja e disfarçado temor. Quanto a mim, observo atentamente o mundo em que fui gerado - as caóticas e ignorantes massas humanas assassinando o globo e a si mesmas, sufocadas por uma infinidade de males, o pior deles a fraqueza de governantes incapazes de conduzi-los.

Eu, porém, contemplo-os com piedade e vislumbro um futuro glorioso para esse planeta e esta espécie tão subestimada, uma época luminosa, sem os Autobots, e sob a mão poderosa e imperativa de Megatron e dos Decepticons. Se alguns milhões de humanos, ou mesmo a metade deles, precisar ser extinta por esse sonho, que assim seja. Valerá a pena.

Nos últimos tempos, eu me sentia inquieto sobre os rumos desta guerra, porque, desde nosso fracasso com o laser quântico, este conflito tornou-se vítima de um tedioso impasse. Eu não podia acreditar que Megatron e Optimus Prime permitiriam que esta situação se prolongasse indefinidamente.

Como os planos de meu mestre são irritantemente insondáveis e quase incompreensíveis, voltei-me para as intenções do líder dos Autobots. Por meios que esclarecerei mais adiante, descobri que Optimus havia construído o meio para desequilibrar a seu favor o confronto contra nós. O nome era DarkFusion, ironicamente, um Transformer também criado na Terra, como eu.

Li e reli os relatórios com toda a atenção e o que estava lá me preocupou. O líder Autobot estava sendo cauteloso ao guardar seu novo trunfo, bem protegido por todas as defesas da Arca.

Posso imaginar a frustração de Megatron: mesmo um ataque direto à base de nossos inimigos, seria arriscado demais. Enquanto isso, DarkFusion crescia em poder e aprendizado e, em mais um mês ou dois, seria lançado contra nós... Uma monstruosidade da tecnologia cybertrônica, contra a qual não teríamos chance.

Mesmo agora a criação de Optimus já era mais poderoso do que qualquer Transformer. Nenhum Decepticon se arriscaria a enfrentá-lo... Nenhum Decepticon... Então, percebi o que devia fazer.

Escondi os arquivos que havia roubado e me isolei na parte da base Decepticon que transformei em minha área de treinamento. Os outros não me incomodariam lá, pois preferem quando estou longe. Treinei por um dia inteiro e meditei por todo um outro.

Não há, exceto Megatron, Decepticon mais poderoso do que eu - ou mais ousado e selvagem em batalha. Cybertron é um mundo cansado e velho e minha espécie, os Transformers, têm decaído ao longo dos anos. Mas eu nasci aqui, neste mundo, e talvez - como acusam os outros - algo dele tenha se incorporado a mim.

Estudei cada detalhe deste planeta e toda a cultura humana. Suas guerras, selvageria e crueldade me fascinam. Uma espécie jovem, com fogo ainda ardendo em seu espírito, como ocorre comigo e como um dia foram os outros Transformers.

Anseio trazer isto de volta a meu povo. Por isso preciso de Megatron. Ele é o líder que nos concederá esse futuro. Assim, me tornei seu mais devotado e leal servo e o mais valoroso e eficiente guerreiro Decepticon. Porém, meus esforços não têm sido o suficiente. Preciso garantir meus sonhos, para os Transformers e para o povo da Terra.

O primeiro grande problema era como chegar até DarkFusion. Percebi, contudo, que eu mesmo era a solução. Uma habilidade que foi incorporada durante minha criação - e que cuidei em aperfeiçoar desde que nasci - permite-me viajar em dobra espacial.

Abençoado com esse dom, sempre estou no espaço sideral treinando tal capacidade, os outros questionam porque não vou embora definitivamente, porque tenho de voltar se poderia ir a qualquer parte do Universo. Quão tolos eles são! Nada compreendem de minhas motivações e planos. Sim, eu poderia aceitar o sedutor convite do Cosmo, para perder-me em suas profundezas e infinitas possibilidades, mas sempre mergulho de volta a Terra, um mundo do qual sinto fazer parte. Eu volto por Megatron, por Cybertron e pelo futuro da humanidade.

Encerrei a meditação quando senti que estava pronto para o que tinha de fazer. Há uma centena de mitos sobre as conseqüências catastróficas de se ativar uma dobra espacial dentro da atmosfera de um mundo. Com certeza, nenhum outro Decepticon se arriscaria a tanto. Eu, porém, pretendia desafiar essas crenças.

Primeiro mudei para meu modo veículo - uma espaçonave triangular, ligeira e ágil, não maior do que um corpo humano, todavia, superior a qualquer outra já construída pelo meu povo. Lembrei que necessitava percorrer uma relativa distância antes de ativar o motor de dobra, mas, contrariando a enfadonha cautela cybertrônica, apenas flutuei a cerca de dois metros do chão da base e ativei os propulsores hiperespaciais.

Toda a luz se converteu no mais escuro vácuo. A realidade se contorceu, enquanto ondas subatômicas de desajuste espalharam-se pela matéria ao meu redor, fazendo seus átomos gritarem para mim - sim, o som de átomos gritando é mais horrível do que eu poderia conceber. Recordei-me das advertências e teorias e temi estar destruindo a base Decepticon, mas ignorei esse receio e não cedi à tentação de desligar os motores.

Em seguida, senti que estava me movendo, quando as ondas de desajuste tomaram conta de mim no nível quântico e a dor foi ainda maior do que eu poderia ter sonhado. Eu havia ativado motores de dobra dentro da atmosfera de um mundo...

Iniciei uma viagem hiperespacial a partir de um deslocamento zero... Uma parte minha gritou que eu havia enlouquecido e meus átomos ameaçaram dissiparem-se. Mas resisti ao medo e ao desespero. Aquele era só o primeiro desafio do dia e eu estava disposto a vencer, provando ser mais ousado do que qualquer Decepticon já havia sido.

Logo aquele instante passou. Inconscientemente desacelerei. A realidade voltou ao normal e meus sensores ópticos foram reativados. Esforcei-me para manter-me de pé, até que a fraqueza que ousava tentar me dominar passasse. Então, olhei ao redor. Eu estava dentro de uma estrutura metálica, não tão diferente de nossa própria base: a Arca. Eu sobrevivera e havia conseguido!

A primeira coisa que fiz foi acessar um satélite espião Decepticon em órbita da Terra (o quinto de uma série, pois Optimus havia destruído os anteriores) e me certifiquei de nada havia ocorrido à base Decepticon, nem as populações humanas mais próximas daquele lugar. Hunf! Teorias e crenças catastróficas... Quanta tolice!

Com alegria, pude constatar que havia chegado a uma área da Arca bem próxima ao laboratório onde estaria DarkFusion. Bastava apenas caminhar alguns segundos até lá. No entanto, meus sensores periféricos alertaram-me que tinha companhia. Sorri e voltei-me pronto para encerrar a vida de um desafortunado Autobot... Porém, diante de mim, estava um humano.


(continua)
[ parte 2 ]