ATB - Aliança Transformers Brasil

CrashJones

Autora: RITA MARIA FELIX DA SILVA


Nota legal: Os direitos autorais de Megatron, Optimus Prime, Autobots, Decepticons e demais personagens e conceitos relacionados pertencem a Hasbro Inc. Esta história foi escrita, unicamente, para fins culturais, sem qualquer objetivo financeiro ou lucrativo - portanto, nenhuma forma de comércio ou ganho está sendo praticada aqui.

Parte 3

DarkFusion acordou e arrancou os fios sobre sua couraça. Seu rosto irradiava dúvida e confusão enquanto olhava para mim e se afastava da maca onde estivera adormecido.

Ele era uma massa corpulenta de metal negro e brilhante, quase o dobro de meu tamanho. Contudo, era o que eu podia sentir que me assombrava: os outros Decepticons sempre zombaram de que minha sensibilidade era exagerada demais, como a dos humanos. Mas eles são apenas tolos, incapazes de vislumbrar o horror que estava diante de mim.

Eu percebia o poder contido em DarkFusion, uma força violenta e primerva, terrível, inescapável e apocalíptica, impossível de ser detida ou mesmo enfrentada, e que fugia a minhas tentativas de entendê-la. Era a tecnologia de minha espécie torcida e deformada até um modo quase herético... Uma aberração, uma monstruosidade...

Ele me pareceu uma criatura saída dos pesadelos humanos sobre o Inferno... Um Yontechnak, dos longínquos e perversos abismos de Wolhragypur, como nas lendas de meu povo...

Nunca este mundo ou Cybertron haviam conhecido um ser como aquele e eu questionei a sanidade de Optimus, por ter permitido a criação de algo assim, e a minha, por me atrever a confrontar essa coisa... Temi por mim mesmo e por meus irmãos Decepticons. Contive meu próprio medo, a irresistível onda de pânico que ameaçava me possuir, e jurei que destruiria DarkFusion, não importava a que custo.

Sem esperar que ele dissesse uma palavra, fixei uma coordenada específica em minha mente, atirei-me sobre o monstro e, ao tocá-lo, ativei meus motores de dobra espacial. Em meu modo robô. Sem me transformar em nave. Uma insanidade absoluta, todos outros diriam, mas nada importava para mim agora, exceto livrar o universo da presença daquela criatura.

O mundo se contorceu e amaldiçoou-me guinchando sua dor para meus sensores auditivos, enquanto eu e DarkFusion abandonávamos o espaço-tempo normal e mergulhávamos nas trevas do hiperespaço. Logo a escuridão foi substituída pela luz intensa de um sol e a sensação de areia sob meu corpo. Havíamos voltado à realidade e caído em um deserto, longe o bastante de qualquer comunidade humana, e o suficiente para proteger essa espécie das sombrias conseqüências do confronto que ali ocorreria. Como eu planejara.

Ainda bastante abalado – meus sistemas implorando por descanso, a dor ameaçando me enlouquecer – levantei-me e preparei-me para eliminar a aberração criada por Optimus, consciente de que deveria agir rápido, pois não teria qualquer chance se ele pudesse se recuperar.

Porém, meus circuitos captaram a atividade interna no corpo de DarkFusion. Contrariando tudo o que eu sabia e no que acreditava, a viagem súbita pelo hiperespaço tinha o abalado menos do que eu desejava e sua recuperação acontecia em ritmo impossivelmente acelerado.

Estremeci e quase gritei de horror, pronto para atacá-lo, porém, um momento do qual jamais poderei esquecer aconteceu: Olhei para meu oponente ainda caído e vi que ele era uma criatura única em toda a existência, diferente de tudo o que já se viu ou, porventura, se verá. Sem irmãos ou semelhantes, sem lugar no plano da Grande Mente, isolada dos desígnios divinos, dolorosa e absolutamente só, incapaz de confiar em qualquer outro ser e, ainda assim, padecendo por desejar companhia. Eu o havia temido e insultado e, naquele instante, compreendi que ele era como eu.

Não nego que me compadeci dele e, por um fragmento de segundo, cogitei abandonar minha missão, porém, ele se ergueu, perfeitamente recuperado e olhou para mim.

— Não sei quem é você, mas é um Decepticon e o Líder Optimus me ensinou que todos os Decepticons devem morrer – ele disse e sua voz tinha um tom divino e tenebroso: era como relâmpagos e trovões, rasgando os céus numa noite assustadoramente escura; e o terrível e doloroso barulho de uma guerra entre dois exércitos quase incomensuráveis; e o abissal lamento de núcleos de átomos sendo obrigados a se fundirem.

— Ele cometeu um erro quando permitiu que você existisse. – respondi e ataquei-o com mais poder e fúria do que jamais pude antes.

Eu o havia definido como apocalíptico, porém apocalíptico foi meu erro ao desafiá-lo. Usei contra ele todo o poder que eu possuía, todos os recursos de que dispunha, todas as minhas armas, minha força, coragem e teimosia, toda estratégia que pude... Por causa de nossa luta, uma nuvem selvagem de areia e energia ergueu-se para muito alto do céu, até que, com um soco, ele me repeliu e meu corpo atravessou uma montanha próxima.

Mais danificado do que eu poderia imaginar, deixei a caverna que involuntariamente eu havia criado e retornei à batalha. Estava ainda envolvido pelas energias do confronto e, por isso, as rochas derretiam ante a minha passagem e a areia transformava-se em vidro debaixo de meus pés.

Meu novo ataque foi de uma fúria como eu jamais sonhara que pudesse existir. Por um momento, o tempo se cristalizou e eu cogitei que poderia vencê-lo. Todavia, quando olhei para o rosto impassível dele, quando percebi que aquela cena lembrava uma criança humana golpeando um montanha, eu estremeci pois compreendi que estava fadado a derrota desde que decidira iniciar meu plano de matar DarkFusion.

Essa breve compreensão, logo foi substituída pela dor, quando ele me atingiu com uma mistura de energias crepitantes, poder colossal e um punho metálico dotado de força quase divina. Admirei-me que minha cabeça não tivesse sido arrancada naquele momento. Eu cambaleei e caí para trás, sentindo mais dor do que jamais conjeturara existir, levantei-me, fechei os punhos e gritei com toda a essência de minha alma, num brado de agonia e desafio.

— Você é fraco e louco! – zombou meu inimigo, juntou as palmas das mãos, apontadas para mim, e disparou a mais poderosa rajada atômica que eu já vira.

Mesmo extremamente enfraquecido, ainda em meu modo robô, atirei-me ao hiperespaço, desaparecendo do mundo e apenas isso me impediu de ser desintegrado. Mas parte da força daquele raio atingiu o nível quântico da realidade e fui cuspido de volta ao universo normal. Caí diante dos pés dele.

DarkFusion olhou-me com ira e desprezo e, em seguida, cravou suas mãos numa grande pedra que havia ali perto, ergueu-a e aproximou-se de mim. Era uma cena terrível que me contemplava, digna das mais sombrias ficções humanas: energias por demais intensas escapavam do corpo daquela criatura, crepitando e percorrendo a rocha, enquanto partes desta começavam a derreter. Ele atirou sobre mim aquela pequena montanha.

Tomado pela dor e pelo medo, me traí e gritei, enquanto um som que me parecia igual à morte de um mundo preencheu toda a realidade.

O Autobot esperou ansiando que eu não mais me erguesse. Porém, contrariando suas expectativas, eu levantei-me mais ferido do que qualquer Transformer já estivera. DarkFusion, porém, continuava absolutamente ileso, como se fosse uma barra de aço molecularmente manipulado e eu, não mais do que uma palavra lançada contra ele.

— Que tipo de monstro você é? Não pode ser um Decepticon... Por que simplesmente não desiste e morre? – ele questionou e estas frases machucaram-me mais profundamente do que seus golpes.

A dor era muito maior do que consigo descrever. Eu estava fraco e desolado, meus sistemas internos há muito já haviam passado do ponto do colapso, em silêncio eu desejava morrer, pois um sofrimento como aquele não deveria existir. Mas eu resistia, pois pensava no futuro soturno que se abateria sobre Decepticons e Humanos se DarkFusion não fosse destruído. O espírito de duas espécies ardia em mim e por esta chama eu persistia.

Elaborei o que considerava meu último plano. Sem ter certeza de que ainda conseguiria, transformei-me em meu modo veículo – a pequena espaçonave que já havia sido a mais poderosa entre meu povo – e zarpei rumo aos céus. Uma parte de mim cogitou partir para sempre, fugir daquele confronto doloroso e condenado, no entanto o destino de dois povos me aguardava lá embaixo e eu não poderia ignorar isso.

A trinta quilômetros de altura, curvei de volta para a Terra, acumulando energia cinética. Quando estava a cinco quilômetros do solo, desliguei os motores e comecei a cair. Reverti a minha forma humanóide, juntei os punhos fechados, uni também as pernas, e comecei a liberar toda a energia que ainda restava em mim, o que envolveu-me numa nuvem de poder e violência, uma desesperada estrela cadente maculando a atmosfera. Eu estava decidido a morrer naquele dia, mas meu inimigo iria perecer comigo.

Ao cair sobre DarkFusion provoquei um terremoto sobre o qual os humanos ainda devem estar se perguntando. O que eles chamam de cogumelo atômico se ergueu, como uma poesia distorcida. A poeira provocou uma noite artificial naquele lugar e uma enorme cratera surgiu, enquanto calor, radiação e uma tempestade eletromagnética pareciam querer destroçar a realidade.

No centro daquele cenário apocalíptico eu me ergui. Caminhei quando devia estar morto. Partes de meu corpo haviam derretido ou foram perdidas. Com o que restara de meu rosto, tentei rir, e, com o braço que me sobrara, ergui um punho em triunfo. Eu derrotara o monstro. Eu sobrevivera.

Porém, de um canto, um grande e ameaçado vulto também caminhou e chegou perto de mim. Era DarkFusion, absolutamente intacto apesar de todos os meus esforços. Em desespero, blasfemei contra os deuses da Terra e de Cybertron, apenas para, no momento seguinte, implorar pela ajuda de qualquer um deles que pudesse me escutar.


(continua)
[ parte 4 ]