Autora: RITA MARIA FELIX DA SILVA
Nota legal: Os direitos autorais de Megatron, Optimus Prime, Autobots, Decepticons e demais personagens e conceitos relacionados pertencem a Hasbro Inc. Esta história foi escrita, unicamente, para fins culturais, sem qualquer objetivo financeiro ou lucrativo - portanto, nenhuma forma de comércio ou ganho está sendo praticada aqui. Parte 4Um fragmento de memória: Em meus primeiros dias, fui emboscado por três outros Decepticons. Eles se consideravam puristas extremistas. Zombavam de mim dizendo que eu era estranho demais para ser um Decepticon e que talvez dentro de minha couraça se escondesse um humano. Eles me rasgaram do pescoço até a cintura, abriram meu corpo. Não havia qualquer humano em mim. Frustrados, deixaram-me moribundo. Resisti e arrastei-me até um laboratório, onde, sofrivelmente, consegui me consertar. Tão logo pude, eu os cacei e matei. Esperei por uma punição de Megatron, contudo isso jamais veio... As memórias se dissiparam. Eu estava novamente no deserto, no meio da cratera, diante do horror Autobot que eu ousara desafiar. Naquele momento, eu nem mesmo me questionei como eu e o monstro continuávamos imunes ao pulso eletromagnético da explosão. Comecei a recuar aterrorizado. DarkFusion falava algo, mas a tempestade — os raios crepitando — impediam-me de escutá-lo. Ele projetou de seu braço esquerdo uma haste de metal idêntico ao de seu corpo. A lança, sobre a qual eu lera nos arquivos que roubei. Aquela arma começou a brilhar na escuridão atômica e foi envolvida por um tênue campo energético. Segurando-a com as duas mãos, ele avançou sobre mim, num universo que parecia em câmara lenta. Fraco, ferido, exaurido e exposto além dos limites, eu não teria como sobreviver àquilo. Porém, decidi continuar lutando pois pensei no futuro sombrio que se seguiria a minha partida e desejei poder chorar — como os humanos fazem. De repente – e pensei que houvesse enlouquecido – comecei a escutar um som de baixa freqüência e surpreendi-me ao compreender que estava ouvindo... “Com minha alma?” – indaguei-me desconcertado, enquanto o que era apenas um ruído foi ficando mais claro, até se tornar uma melodia. Alguém cantarolava para mim. “Deve ser a morte, finalmente chegando...” – conjecturei. Eu estava enganado. Foi como abrir os olhos depois de caminhar uma vida inteira na escuridão. Aquela melodia preencheu o mundo e imagens indistintas começaram a tremular diante de meus olhos. O deserto e meu adversário desapareceram. Alguém me tocou de forma gentil e, súbito, eu estava diante de... Como posso defini-los? Ela parecia uma fêmea humana ainda jovem e seu sorriso era maternal, profundo e acolhedor e eu repousava em sua mão. Ele lembrava um Decepticon, porém suas formas, seu design, eram mais bem planejados do que jamais vi entre meu povo. Ambos brilhavam como um sol, após prolongada chuva, e deles irradiava um poder tranqüilo e primordial... Muito além do que posso explicar... E eram grandes como planetas. Sem necessitar de uma única palavra, falaram para meu espírito e eu compreendi: lá estava a Mãe-Terra, de cujo ventre todo este mundo proveio e o outro era um Wonrharyu, um mensageiro da Grande Mente, o equivalente cybertrônico para um anjo. Por Cybertron! Era como nas lendas. Desejei fazer-lhes uma infinidade de perguntas, as questões que acumulei desde o início de minha existência como ser racional, porém uma súplica cresceu em mim e eu apenas disse: — Por favor, eu não quero morrer neste deserto, após falhar em minha missão. Eu imploro por poder para derrotar meu adversário. Seus rostos planetários olharam para mim, com um tom de severidade que me aterrorizou e então compreendi o que eu realmente era — uma verdade que estivera oscilando tênue pelas fronteiras de minha alma — e o que eu precisava fazer. Sim. Eu hesitara por toda a vida, mas agora finalmente havia olhado dentro e para além dos abismos de minha própria ignorância e temor. Diante dessa compreensão, a epifania se dissolveu. Eu estava de volta ao deserto, a DarkFusion armado com sua lança e preparado para me destruir. Mas ele se enganara. Eu não sentia medo. Pensei em todos os humanos e Decepticons. Meu rosto destroçado esboçou o que poderia ser a caricatura de um sorriso. Eu estava pronto. Os humanos chamariam isto de iluminação. Em dialeto Decepticon, desconheço o termo apropriado. Olhei para meu inimigo, estendi minha mão direita e me concentrei. Por toda a vida, eu havia imergido no hiper-espaço e manipulado dobras espaciais. Teleportação era só o próximo passo. Lembrei dos arquivos que eu roubara, refazendo cuidadosamente na memória todos os detalhes internos de DarkFusion. Então um brilho envolveu minha mão e um pequeno objeto, em forma de uma barra de metal e plástico, surgiu nela. Um dos reatores principais que alimentava meu inimigo. Em termos humanos, eu poderia dizer que estava segurando o coração dele. Teleportei aquele mecanismo — um troféu de minha batalha — para um lugar do qual esperava recuperá-lo, se sobrevivesse a tudo aquilo. Abalado, o monstro começou a cambalear. Eu realmente o havia ferido, porém, ele ainda possuía outros reatores internos e seus sistemas passavam agora por uma reconfiguração quase insana, tentando compensar o que lhe acontecera. O monstro iria se recuperar logo. Mantive minha calma. Sabia o que fazer. Uma vasta gama de possibilidades. Cabia-me, apenas, escolher qual usar. Levantei-me e golpeie-o. Ferido como estava, ele tombou. Tomei-lhe a lança de suas mãos enfraquecidas e cravei-a em sua cabeça. Energia crepitava de seu corpo, enquanto acontecia o colapso geral de seus sistemas. Mas, como eu sabia, sua estrutura tentava se reconfigurar... O que iria conseguir em mais alguns segundos. Olhei para ele, em sua tentativa obscena de permanecer vivo. Mas tudo era mais simples agora e tão claro como nunca sonhei. Sem tocá-lo, ainda em meu modo robô, teleportei a nós dois. Reaparecemos no espaço sideral, em algum ponto já distante da órbita da Terra. Olhei-a tão longe de mim e, desta forma, protegida do que eu teria de fazer. Isso me agradou. Depois, observei a vastidão e profundeza do Cosmo, do qual, por um instante, cogitei me despedir... DarkFusion flutuava próximo a mim. Sua recuperação ocorrendo vertiginosamente. Em alguns instantes, ele arrancaria a lança e me atacaria. Um horror impossível de ser detido? Não. Apesar de tudo, meu adversário era um Transformer. Um exercício muito simples de lógica diria que ele precisava ter a habilidade de se transfomar, porém seu modo alternativo foi algo que me impressionou quando analisei os planos de sua construção. Eu não havia realmente derrotado DarkFusion... Mas se ele pudesse ser derrotado então a diretriz final de sua programação seria executada... Um último truque, uma trapaça de Optimus contra os Decepticons caso a monstruosidade Autobot fosse sobrepujada... Eu desejava ver isso. Deixei que da única mão que me sobrara filamentos plásticos fossem liberados e com eles toquei o corpo de DarkFusion, estabelecendo uma interface com seus sistemas. Uma habilidade que eu acabara de adquirir ou que talvez sempre estivera adormecida em mim... Através da interface pude sentir a luta desesperada de meu inimigo para se recuperar, enquanto seu corpo havia se tornado um lugar por demais caótico e doloroso. Pela segunda vez senti pena dele, mas ignorei a piedade e continuei. Minha mente vagou por seu sistema operacional, vasculhando e lendo linhas de programa, rotinas e sub-rotinas, até encontrar onde estava escondida a última ordem que ele deveria cumprir. Eu a acionei. Removi os filamentos de volta a minha mão e aguardei. A lança foi arremessada do corpo de DarkFusion — e deixei que ela se perdesse melancolicamente no espaço — e ele começou a se contorcer até assumir a posição fetal dos humanos. Logo os detalhes de sua estrutura foram desaparecendo até que ele havia se convertido numa enorme esfera negra, cuja superfície era impecavelmente lisa. E um mecanismo interno de detonação foi acionado. DarkFusion foi criado para ser uma arma de destruição em massa e sua última diretriz — que eu, propositadamente, havia ativado — era transformar-se numa poderosa bomba de hidrogênio e explodir, destruindo seus inimigos. Restava-me apenas uns poucos segundos. Eu não poderia sobreviver aquilo. Pensei em mim mesmo com uma desolação mais profunda do que jamais senti. Eu já fizera demais. As últimas horas pareciam como se toda uma vida houvesse se passado, porém não poderia morrer ali, daquela forma, não sem ao menos ter tentado sobreviver. Invoquei a teleportação, mas não funcionou. Eu havia ido além e me ferido mais do que seria possível a qualquer um de minha espécie. Todavia, consegui reverter a meu modo veículo. Transformado em nave, parti dali com a maior velocidade que pude... Todavia, o destino final de DarkFusion se cumpriu antes do que eu esperava e fui atingido pela explosão. E a dor... Eu nunca havia sentido algo tão terrível assim... Nem sonhara que algo daquela intensidade pudesse existir... Involuntariamente, fui arremessado de volta a meu modo robô. Enquanto todos meus sensores definhavam, voltei minha cabeça para a nuvem de radiação, luz, calor e eletromagnetismo formada pela explosão que momentos antes fora DarkFusion. Tão grandiosa. Terrivelmente bela. Talvez como a morte de um sol. Então não havia mais nada, nenhum ponto ou segundo para se ir adiante, porque continuar agora se resumia a uma impossibilidade. Todos meus sistemas começaram a se desligar sozinhos e meus sensores me abandonaram. Incapaz de falar no vácuo, meu último pensamento foi uma breve prece pelos humanos e Decepticons. Mas a prece definhou e o universo se tornou escuro diante de mim. E tudo se transformou no mais absoluto silêncio. (continua) A seguir: o fim. |