ATB - Aliança Transformers Brasil

Entrevista - Guilherme Briggs


Entrevista concedida via e-mail a Marcus Garrett, membro da mailing list brasileira Planeta Cybertron, em novembro de 2001. (As perguntas foram formuladas por Marcus Garrett e Marcelo "Rattrap".)

 

Introdução

Texto: Luna


Guilherme Briggs é desenhista, ator e dublador.

Dublou diversos personagens de animação, entre eles: Freakazoid ("Freakazoid"), Babão ("Eu Sou o Máximo"), Graveheart ("Shadow Raiders - Guerreiros das Sombras"), Kronk ("A Nova Onda do Imperador"), Moisés ("O Príncipe do Egito"), Mewtwo ("Pokemon") e Krusty ("Os Simpsons"). Dublou também personagens de filmes e seriados, como: Ross ("Friends"), Worf ("Jornada nas Estrelas: A Nova Geração"), Quark ("Jornada nas Estrelas: Deep Space 9") e o Grinch ("O Grinch").

Além de atencioso com os fãs, ele também é muito bem humorado, como vocês poderão conferir na entrevista a seguir. :-)


Entrevista

Texto: Marcus Garrett


Você teve contato com a série original dos Transformers, exibida pela Rede Globo entre 1986 e 1987? Você assistia? Gostava?

GUILHERME BRIGGS - Eu assistia sim e gostava muito. Pena que não passa mais na televisão. Lembro vagamente de poucas histórias, gostaria muito de assistir de novo para relembrar. Alguém tem episódios para me emprestar? Segue aqui então o meu apelo, de Autobot para Autobot... :)


Se sim, quais são seus personagens favoritos!? Prefere os Autobots ou os Decepticons?

GUILHERME BRIGGS - Sempre os Autobots... mas... o que seriam os Autobots sem os Decepticons? Me agrada o design dos personagens, acho muito estimulante visualmente. Impressionante como a figura do Optimus passa uma imagem inconsciente de general romano, com aquele capacete. A boca coberta deixa o personagem ainda mais misterioso. Eu sou vidrado no Optimus, sempre fui. Que personagem nobre, um verdadeiro e inspirador herói. Admiro muito ele. Queria tanto um boneco do Optimus clássico... quem souber onde posso encontrar um, por favor, entre em contato comigo!


Beast Machines não agradou a muitos transfãs por mostrar personagens tecno-orgânicos e não simplesmente criaturas de metal... O que vc pensa sobre Transformers tecno-orgânicos?

GUILHERME BRIGGS - Eu sempre gosto de novas idéias. Acredito que manter os Transformers como criaturas de metal deva ser mais difícil na hora de explicar vários comportamentos emocionais, típicos das criaturas orgânicas. Mas seria um desafio, tentar mostrar como se comporta uma pseudo-vida baseada no metal, somente com a inteligência artificial atuante. Acho que o mais importante sempre será a criação de histórias envolventes e bem elaboradas com personagens interessantes e dimensionais, bem explorados. O fato deles serem de metal ou tecno-orgânicos não é o fundamental.


Sendo conhecedor de outras séries Transformers ou não, qual foi a sua opinião sobre a série Beast Machines, de um modo geral?

GUILHERME BRIGGS - Eu gostei do "espiritualismo" com relação à Matrix, do comprometimento máximo do Optimus Primal com seus companheiros e com sua espécie. Eu prefiro Beast Machines à Beast Wars, com certeza. Quando a série desenvolve os personagens através de caminhos e formas interessantes, inovadoras e questionadoras eu já fico feliz. Beast Machines apresentou algumas idéias bem legais. Inclusive, os dubladores elogiavam muito esses aspectos da série.


Como foi a experiência de ter dublado o Optimus Primal!? Conte-nos um pouco sobre o teste de dublagem e sobre como era seu dia-a-dia na dublagem do Líder Maximal.

GUILHERME BRIGGS - Eu fiquei muito feliz e ao mesmo tempo preocupado. Tinha acabado de dublar o Graveheart em Guerreiros das Sombras (Shadow Raiders) e estava receoso de repetir a voz no Optimus, para não desagradar os fãs do personagem com a repetição de voz. Assim que soube que tinha passado no teste de voz, corri para a mixagem e fui falar com o Anderson (ele é um dos mixadores da Cinevídeo), para sugerir um filtro na voz do Optimus, o que disfarçaria e seria bem interessante, nada de distorções, apenas um filtro de leve. Anderson me explicou que a dublagem seria feita no método antigo, com todos os dubladores se revezando na hora da gravação (fica mais em conta para o estúdio). Ou seja, tinham alguns personagens que precisariam ficar sem filtro... Não daria para gravarmos ao mesmo tempo; eu e outros que precisassem gravar com o filtro (como o Megatron), teríamos que fazer separado. Foi uma falta de comunicação, pois a diretora (a sempre excelente e maravilhosa atriz Míriam Ficher) resoveu gravar todos em canais separado no final e aí... não dava mais tempo. Que aflição!!

Mas, com o tempo, resolvi parar de me preocupar com a voz e me entregar ao personagem mesmo, interpretando sem pensar se parecia ou não com o Graveheart. A voz pode ser a mesma, mas quando dublo o Optimus Primal, eu me transformo em Optimus mesmo. Senti vontade de chorar quando o Primal encontra o arquivo "espiritual" do primeiro Optimus, o Prime. Fiquei doido, pedi para a Míriam para dublá-lo também (ela não conhecia a série e achou que deveria ser outro dublador). Como o dublador oficial e clássico não estava disponível (infelizmente, pois eu sou bem purista e respeito demais isso) eu tive a honra e o privilégio de dublar o Líder Optimus original. Essa cena foi uma das mais comoventes pra mim.


Em Beast Machines há dubladores que também dublaram personagens da série original dos Transformers. São eles: Dario de Castro e Francisco José. Eles chegaram a comentar algo a respeito contigo? Lembraram-se de que dublaram a série original?

GUILHERME BRIGGS - Eles acharam o visual de Beast Machines extremamente bem feito. Ficaram assombrados com o avanço da tecnologia de renderização dos computadores atuais. Não comentaram nada a respeito de Transformers comigo, mas acho que com certeza devem ter se lembrado. Ou então o Megatron apagou os arquivos das mentes dele, não é possível!! Hahahahaha... Vou perguntar pra eles de novo, depois eu digo o que eles falaram à respeito da série clássica dos Transformers.

O mais engraçado disso tudo é que o Dário ficou brincando comigo depois que soube que iria dublar o Optimus - já que é um gorila - pois fazemos juntos a série animada "Eu Sou o Máximo" (na qual eu faço o macaco Babão e ele a doninha, o Máximo). Ele entrava no estúdio, colocava a mão no meu ombro e falava com a voz do Máximo (olhando pro Optimus Primal na televisão): "Babão... você cresceu... está mais bonito... o que houve?" Hahahahahaha... E eu ficava, de sacanagem durante os ensaios para gravar, fazendo a voz do Babão no Optimus. Juntava gente na técnica do estúdio só pra assistir essas brincadeiras... "Babão istá mais bunito agora, Babão fez prástica, marombou o corpinho e virou gurila Optimus! Queru ver Máximu chatolino cantar de galo nu meu terreiro agora! Hahahahahahahaha!! Babão é Líder Optimus, não é mole nãoooo!! Senta no autobot, mas antes lava a mãooooo!!!" Hahahahahaha...


Na sua opinião, Beast Machines é uma série voltada mais para o público infantil, ou para fãs mais maduros?

GUILHERME BRIGGS - Acho que agrada a todos os gostos. A parte "espiritual" acredito que vá agradar mais os adultos (foi o que mais me agradou na série). As visões, os "insights" do Optimus com o Oráculo são geniais. As crianças vão sempre gostar do visual caprichado, dos personagens bizarros e dos enredos clássicos da eterna luta do bem contra o mal, isso é uma constante universal. Os adultos se ligam mais nas histórias e nas relaçãoes inter-pessoais.


O que você achou do final da série, ou seja, da reformatação geral do planeta dos Transformers, isto é, de Cybertron ter se transformado em um mundo tecno-orgânico?

GUILHERME BRIGGS - Eu achei interessante, só espero que isso não seja o fim da série, um fechamento completo. Gostaria que continuasse. Eu só não gosto quando uma série é feita apenas para vender bonequinhos ou brinquedos. Isso faz parte, mas nunca pode ser o elemento fundamental. Não sei até que ponto a liberdade criativa dos redatores ficou atrelada ao marketing da série, poderiam ter desenvolvido muito mais elementos interessantes, com certeza, em Beast Machines. Talvez numa continuação eles possam explorar mais isso.