ATB - Aliança Transformers Brasil

Os Dias Mais Felizes de Megatron

Autora: RITA MARIA FELIX DA SILVA


Dedicatória: Dedico este conto ao amigo que encontrei em uma das salas do Mirc, que usava o “nickname” de “Megatron” e que me proporcionou um dos melhores diálogos dos quais já participei na Internet. Foi a partir de uma de suas frases (“Por que você não escreve uma história em que Megatron derrota o Optimus Prime?”) que esta história se inspirou e desenvolveu-se.


Epílogo: "De Volta a Zeta-7"

"A transmissão encerrou-se e as imagens holográficas definharam rapidamente até desaparecerem no gabinete de MK-5276.

_Quais são suas instruções, MK? – indagou a voz do computador. MK, porém, permanecia em silêncio, como se em choque.

_Ei, MK, o computador tá esperando... Diz alguma coisa! – instigou-a LJ-4165, na verdade impaciente e ansioso pela próxima parte de seu pequeno plano.

_Oh, claro... – falou MK-5276, ainda hesitante – Arquive isto com protocolo máximo de segurança e transmita cópias a todos os xeno-arqueólogos cadastrados. Ah, marque uma reunião com representantes do instituto para amanhã pela manhã... Deuses! Isto responde a tudo! Tudo o que sabíamos, ou melhor, pensávamos que sabíamos, mudou para sempre! Eu...

Subitamente, ela lembrou-se de LJ-4165 e voltou-se para o rapaz:

_LJ, eu não consigo imaginar como poderia te agradecer. Você faz idéia do bem que realizou hoje? Esta gravação vai promover anos de progresso em toda a nossa Xeno-arqueologia...

LJ-4165 riu, de forma maliciosa, e respondeu-lhe apontando o indicador direito para ela:

_Ah, peraí! Eu sei como você vai me agradecer sim! Os psicólogos de papai me disseram que você ficaria assim: de boca aberta, chocada e agradecida demais para me rejeitar. E eles estão certos! Essa noite, você vai ser toda minha e vou fazer o que eu quiser! – então, fez uma pausa, para depois prosseguir – Te pego em tua casa pra jantar em duas horas! Esteja pronta, porque depois que a gente comer é que a verdadeira festa vai começar!

MK estava mais chocada e ofendida com ele do que podia expressar, porém a prudência aconselhava que ela concordasse, pelo menos por enquanto...

_Certo! Em duas horas, mas lá em casa, não. Me encontra aqui mesmo...

LJ-4165 soltou um grito de triunfo e foi embora saltitante, tomado por uma alegria selvagem. Quando a porta se fechou atrás dele, o computador voltou sua atenção para MK:

_Isso é um pouco absurdo! Você não é obrigada a fazer o que ele quer! – comentou a voz mecânica, que soava pertubadoramente humana e feminina.

Os lábios de MK formaram um riso leve:

_E você entende o que ele quer?

_Claro! – retorquiu o computador – Tenho uma enormidade de dados sobre os seres humanos e suas funções e, além disso, você me programou para pensar e agir de modo parecido com sua mãe – o que sempre considerei psicologicamente negativo para você.

_Pode ser... Mas – indagou MK – Você pode ler pensamentos humanos, não é?

_Sim – respondeu o computador - potencialmente, eu poderia realizar uma sondagem telepática num organismo humano, mas, diferente de outros modelos de minha série, não estou autorizada a isso. Os artigos 524 e 525 do Estatuto da Interação entre Inteligências Artificias e Inteligências Humanas disciplinam esta questão e...

_Ei, conheço esse documento e tem algumas brechas nele... Como ser humano responsável por você ordeno que desabilite sua proibição e leia minha mente, sobre essa questão de LJ....

O computador silenciou-se, como alguém que escuta algo completamente inesperado, e, logo depois, apenas disse:

_Muito bem. Ordem executada.

MK, não precisou esperar mais que cinco segundos, até que o computador emitisse o som mais aproximado que pôde de uma gargalhada humana:

_Eu não acredito... Você vai fazer isso mesmo? Pode ser perigoso para você... Pode haver represálias.

Com um leve sorriso, de plena malícia, MK devolveu a preocupação do computador:

_Fique tranqüila. Vai dar tudo certo... E depois do que acabamos de assistir, não me fale em riscos...

MK começou a deixar a sala quando se voltou para o computador e ordenou:

_Separe os itens que você já sabe quais são... E, por favor, vamos manter essa história só para nós...

_Claro, MK, Claro! – respondeu o computador e, para MK, nunca aquela voz havia parecido tanto com a de sua mãe quanto naquele momento.

MK aprontou-se rapidamente e, ao terminar, a imagem no espelho holográfico surpreendeu-a: ora, deveria ser desta forma. Ela precisava estar o mais bonita possível para iludir LJ-4165. Seu pequeno estratagema já estava em andamento e ele nunca desconfiaria... Na verdade, ela contava com isso para que funcionasse.

Depois ela sentou e começou a esperar. A voz quase humana do computador interrompeu o silêncio:

_MK, você não precisa fazer isso... Era só denunciá-lo por assédio...

_Pode ser, - respondeu ela – mas, sendo filho de quem é, eu não conseguiria levar o processo adiante... E, do jeito que imaginei, vai ser mais sutil e divertido... Ei, estou sentindo uma dose de preocupação em sua voz?

_Claro! – respondeu o computador, após alguns instantes de mutismo – Você é a melhor programadora desse hemisfério, fez coisas com minha mente que... Bem, sinto que sou mais próxima de uma consciência humana do que qualquer outro modelo de minha série... Por exemplo, encontrei uma subrotina que você embutiu em meu sistema que... Oh, é melhor mostrar...

No momento seguinte, um facho de luz azulada começou a oscilar diante dos olhos de MK e a tomar forma, até que a imagem holográfica de uma mulher entre os trinta e os quarenta anos estava de pé, em frente a ela... Sua semelhança física com a moça era muito grande...

_Verifiquei os registros... Essa é a forma de sua mãe, não é? – indagou-lhe a imagem.

MK levantou-se, correu até o holograma e abraçou-a com alegria.

_Você sabe que sim... Preparei aquela sub-rotina para um momento como esse... Deuses, como sinto sua falta ! – disse MK enquanto uma lágrima caía-lhe de seu olho esquerdo.

_MK, disse a voz do holograma – enquanto retribuía o abraço, eu não sou sua mãe... Os psicólogos desaprovariam sobremaneira o que você fez... E veja só: eu nem mesmo poderia estar gerando um holograma de luz sólida... Outra travessura sua, não é?

_É, respondeu MK, mas faz silêncio. Quero aproveitar esse momento... Olha, isso não é uma ordem: é um pedido...

_Eu... Não conseguiria chorar... – comentou a imagem.

_Consegue, sim: eu cuidei disso também! – replicou MK.

Os lábios do holograma moveram-se num sorriso terno, humano e maternal... E, logo em seguida, uma lágrima de luz congelada escorreu-lhe dos olhos até o chão metálico...

Alguns minutos depois, LJ-4165 voltou ao museu. Ele olhava MK deslumbrado e emudecido.

Ela o cumprimentou e ambos entraram num daqueles automóveis de propulsão gravitacional. O veículo ergueu-se do solo e breve estava deslizando entre os arranha-céus de AW-72.

LJ-4165 parecia feliz, como um lobo que conseguira pular para dentro da cerca do curral das ovelhas, enquanto o pastor estava dormindo (a comparação era muito antiga, mas MK julgou-a apropriada).

Em segundos, eles aterrissaram em frente ao mais caro restaurante da capital. MK aceitou a ajuda de LJ para sair do carro e, intimamente, ele agradecia aos Deuses por ela estar tão conformada e passiva. A jovem, por sua vez, apenas aguardava, pacientemente, sua idéia ser colocada em andamento: Após o jantar, ele a arrastaria para algum apartamento ou outro canto reservado.

Ele a beijaria, por certo, e era, então, que tudo iria começar: Ser curadora do Museu de Culturas Alienígenas tinha suas vantagens. MK solicitou que o computador separasse pelos menos quatro itens do departamento de Xeno-farmacologia. Extratos raríssimos (não disponíveis, nem no Mercado Oficial, nem no Negro), utilizados para fins religiosos em algumas culturas alienígenas.

Claro que separados eles não significariam muito coisa, porém, apenas MK, e, talvez, um ou dois outros xeno-arqueólogos, em todo o globo, poderiam imaginar os efeitos da combinação daqueles produtos. Ela duvidava que houvesse outro especialista que pudesse preparar aquela mistura da forma que ela fizera e – isso era a melhor parte – quando a substância atuasse num corpo humano, dificilmente poderia ser detectada.

Obviamente, ela injetou nela mesma um antídoto para aquele preparado e sabia que o sistema de limpeza automotizado dos restaurantes evitaria que mais alguém fosse exposto aquela substância. Ninguém mais, exceto LJ-4165.

Quando a substância atingisse o corpo dele, LJ desmaiariam. Ao acordar, na manhã do dia seguinte, suas memórias das últimas vinte e quatro horas teriam sido apagadas e ele apresentaria os sintomas normais de uma violenta ressaca.

Talvez lhe dissessem que ele fora visto com MK e ele viria a supor que algo entre eles haveria acontecido. Não importava realmente. Um efeito secundário da droga inibiria o apetite sexual do rapaz por meses, nos quais MK poderia respirar tranqüila.

Quando esse período terminasse talvez ele voltasse seus desejos para outra moça e a jovem poderia seguir sua vida normal. De qualquer forma, funcionaria.

MK apenas riu intimamente. Uma hora e meia atrás, ela havia colocado aquela mistura de substâncias em seu batom, o mesmo que estava nos seus lábios, os quais o malicioso jovem tanto elogiava. E, em mais alguns minutos, LJ a levaria dali, para algum outro lugar e a beijaria...

LJ-4165 pediu ao garçom que trouxesse a comida – não esquecendo de frisar que era o prato mais caro do restaurante - virou-se para MK, e, esquecendo da sutileza, fez um comentário pornográfico para ela.

MK ignorou. Ela lembrou-se de Optimus Prime, Megatron, Cybertron e Laserbeak, ergueu um brinde silencioso a eles, levou a taça até os lábios e divertiu-se ao imaginar o que aconteceria com LJ-4165...


FIM