ATB - Aliança Transformers Brasil

Coldbyte

Autora: RITA MARIA FELIX DA SILVA


Nota legal: Os direitos autorais de Megatron, Optimus Prime, Cybertron, Transformers e conceitos e personagens relacionados pertencem, unicamente, a seus criadores. Esta obra tem objetivos, apenas, culturais e de entretenimento, portanto, nenhuma forma de ganho, lucro ou transação financeira está sendo realizada aqui.

Parte - 4

Arca. Base Autobot. Área Leste. Manhã de domingo.

A primeira seção da área leste da Arca pareceria aos olhos humanos um grande hangar vazio. Na verdade, era utilizada para treinamento e, mesmo, para embarque ou desembarque de Autobots, especialmente aqueles cujo modo veículo era um caça ou outro tipo de aeronave. Em épocas menos sombrias, os Aerialbots eram encontrados ali com freqüência.

Nas primeiras horas daquela manhã, Optimus caminhou aparentemente sozinho por aquele lugar. Seus passos eram pesados, pois seu espírito estava amargo e afligido pelo temor do futuro.

Sem dizer uma única palavra, ele revisou seu plano. Fora muito difícil impedir que os outros Autobots o acompanhassem, mas estes eram dias em que a necessidade deveria falar mais alto do que opiniões individuais. Ele preferia confiar na capacidade de Ratchet para entender isto, pois não desejava imaginar o quanto poderia ter magoado seu amigo quando precisou usar de autoridade para mantê-lo confinado na enfermaria... Longe do centro de uma tempestade que logo iria se iniciar.

Então, Optimus ordenou que a grande porta, que servia de comunicação da área leste com o mundo exterior, fosse aberta. A luz do sol invadiu o recinto e suplantou a luminosidade artificial fornecida pelo Teletran.

O líder dos Autobots ponderou sobre o dia anterior: Protestos de anti e pró-robocistas assolavam o planeta, muitas vezes terminando com sangue humano desperdiçado. Através de Soundwave, Megatron invadiu os canais de TV e fez terríveis ameaças ao povo da Terra, em retaliação aos Decepticons mortos pelo “ColdByte”.

Em vários pontos do planeta, líderes locais discutiam furiosamente a possibilidade de adotar leis que impedissem a permanência dos Transformers no planeta. E WheelJack estava morto agora. Ele tombara na noite anterior, logo após acionar o que teria sido o protótipo de um campo de força individual para impedir a passagem das “coldbits”. “Uma ironia do assassino”.– pensou Optimus Prime.

O líder Autobot não precisou esperar muito, pois logo vários automóveis, dirigidos por humanos, entraram na Arca e deles uma pequena multidão, empunhando câmeras e microfones, cercou Optimus com uma infinidade de perguntas, com sotaques das mais diversas línguas terrestres. “Repórteres”.– ele comentou para si mesmo e apenas disse:

_Em nome dos Autobots, eu vos dou boas vindas à Arca.

Nos três minutos que se seguiram, Optimus respondeu como pôde as indagações da Imprensa, tomando o cuidado para que certos detalhes, essenciais para seu plano, não transparecessem. Foi quando todos os repórteres se viraram na direção de um enorme barulho e dos fortes ventos que lhes castigavam o rosto. Um helicóptero havia acabado de entrar na Arca.

O veículo apresentava uma estrutura futurista, cor acinzentada e a logomarca de uma grande corporação. A aeronave planou por um instante, acima da cabeça de todos, para depois aterrissar.

Dela desembarcou um adolescente na idade de catorze anos, pele clara, cabelo escuro e muito curto, olhos que demonstravam fúria, grande inteligência e arrogância. Vestia uma calça jeans bem simples; calçava uma marca de tênis cuja propaganda havia inundado a mídia nos últimos meses e usava uma camiseta, também cinzenta, onde se podia ver o desenho, pintado a mão, de uma batalha entre Optimus Prime e Megatron. Na mão esquerda, ele carregava o que parecia um palm top.

O rapaz olhou com atenção (e avidez) para o ambiente ao redor e, disse, com um riso selvagem nos lábios:

_É. Legal essa tal de “arca”. Acho que vou pedir para meu pai comprar uma pra mim.

A imprensa esqueceu-se de Optimus e correu em direção ao rapaz. Ele balançou a cabeça negativamente e sentenciou:

_Não, não. Vou falar com aquele robô primeiro. Vocês esperam.

Da multidão ergueram-se murmúrios contrariados, mas os repórteres obedeceram e seguiram o jovem enquanto ele marchou, com passos orgulhosos, em direção a Optimus. O líder dos Autobots permaneceu em silêncio, sem demonstrar qualquer emoção, mas, interiormente, estava satisfeito: tudo corria conforme havia planejado.

– Enquanto persiste a crise entre humanos e Transformers, causada pelas ações do assassino conhecido como “ColdByte” - disse uma repórter brasileira, olhando para seu câmera – Optimus Prime surpreende a todos ao instituir, pela Internet, um “concurso” que teve como prêmio uma visita de um dia inteiro a Arca. E acaba de chegar o ganhador do concurso, o brasileiro Miguel de Oliveira Holstein, filho único do socialite Augusto Oliveira Holstein, presidente e fundador da Holstein Inc., uma corporação que vem se firmando mundialmente como líder na produção e comercialização de produtos que vão desde creme dental a microprocessadores. Se este é mais um golpe de mídia de Optimus, para tentar elevar o Ibope dos Autobots, vale lembrar que o evento no Hyde Park, há uma semana, terminou com o trágico assassinato de Jazz. Cristina Yonashe, para o BR-Online News.

Miguel de Oliveira Holstein olhou para Optimus Prime com uma alegria que não poderia ser contestada, estendeu-lhe a mão direita e declarou:

_Você não imagina como estou feliz por finalmente encontrá-lo, Líder Optimus.

_E eu a você, Miguel – respondeu Optimus, aceitando o cumprimento, embora a mão do adolescente só conseguisse segurar um dedo do Autobot. A cena durou apenas um instante, Miguel e Optimus recolheram suas mãos e este olhou com atenção para o “palm top” que o rapaz trouxera.

_Esse objeto que você está carregando...? – questionou Optimus.

_Ah – retornou Miguel, com uma convicção que lembrou a Optimus um predador – é só um player para mp3, mp4, mpeg e para aqueles holo-arquivos que vocês, Transfomers usam. Não tem nada tão avançado assim no mercado. Eu que desenvolvi o projeto. O desenho na camisa também foi eu que fiz. E, peraí, se isso aqui fosse ameaça pra vocês o sistema de segurança da Arca já teria sido acionado, não é?

_Sim – retorquiu Optimus, lamentando o curso que os acontecimentos logo assumiriam. Você é um jovem bem talentoso, de todos os Internautas que se cadastraram apenas você foi capaz de preencher os requisitos necessários...

_Isso aí! – disse Miguel com euforia e, nesse momento, seu riso assumiu um tom que pareceu assustador aos olhos de Optimus – eu sou o orgulho de papai... E, depois de hoje, vou ser o orgulho do mundo inteiro...

Optimus Prime ficou em silêncio. O momento seguinte pareceu arrastar-se por uma eternidade. Ele sabia que este era o ponto de ruptura, embora desejasse que tudo pudesse ter sido diferente... Miguel quebrou o impasse com uma palavra:

_Aterrorizar!

Ao som desse comando, o “player” flutuou da mão de Miguel até se estabilizar na altura de seu ombro; a estrutura do dispositivo se contorceu sobre si mesma, com uma maleabilidade que lhe fazia parecer líquida, até se transformar numa pequena esfera, não maior do que um punho humano fechado, pontilhada aqui e acolá, por faíscas avermelhadas, que pipocavam como pequenos relâmpagos.

A camisa de Miguel descoloriu-se diante dos olhos da multidão, tornando-se branca, enquanto o desenho se converteu numa outra ilustração – o rosto de Optimus, dentro de um círculo e cruzado por um “x”: um dos mais populares símbolos dos anti-robocistas.

Nesse momento, em uma freqüência fora do alcance do ouvido humano, o alarme do sistema de defesa da Arca foi acionado. Obedecendo a ordem prévia de Optimus Prime, o Teletran e todos os Autobots, mesmo à contragosto e até aqueles mais propensos a revolta, contiveram seu impulso de reagir. Na enfermaria, Ratchet sentiu seu espírito estremecer, ao pressentir que as engrenagens de um grande desastre foram postas em execução.

_Saudações, ColdByte – disse o líder Autobot, com uma voz tomada pela tristeza.

_É, “todo poderoso Optimus Prime". ColdByte, exterminador de Transformers... E salvador da humanidade – respondeu Miguel, e havia algo naquelas palavras que Optimus já ouvira nos discursos de seus inimigos: presunção, auto-ilusões, engano... E loucura.

ColdByte virou-se para os repórteres – que estavam surpresos e assustados e emocionados demais pelo furo de reportagem que acabaram de conseguir – e começou a discursar com a ênfase e insanidade de um ditador:

_Vamos! Filmem, fotografem, transmitam, publiquem! Levem a boa nova a todos seres humanos... Eu vou salvar a humanidade, vou tornar o mundo melhor, mais seguro... Mais limpo para cada pessoa na Terra... Eliminando essa corja metálica, que não devia nem mesmo existir.

E ColdByte voltou-se para Optimus, com uma fúria e alegria que faziam aqueles olhos humanos quase faiscarem e aquele corpo humano arder e quase tremer de exultação.

_Eu tinha planejado fazer você esperar – disse o ColByte para Optimus - para ver cada um dos outros robôs morrerem, mas essa coisa idiota de concurso me fez mudar de idéia: vou incinerar sua mente hoje mesmo, na frente das câmeras. Vou dar um show, um exemplo para meu povo, o povo humano, os verdadeiros donos deste planeta. Diz aí, invasor, tá tremendo de medo, não tá?

_Não. – respondeu friamente Optimus – Eu não sou invasor. Sofro pelo que já fez e ainda fará, mas escolho não temê-lo.


(continua)
[ parte 5 ]