ATB - Aliança Transformers Brasil

O Filamento Primordial

Autora: ROSANA RABADJI ("ROSANAZUL")


Dedicatória: Para Jackeline, que me inspirou “a dar um salto” nessa história, David Bowie e Coldplay, meus ídolos e fontes de inspiração, e a todos da ATB.


Parte 3

Depois de um tempo pensando, resolvi ajudá-lo, tentando controlar meu medo e a dúvida. Mas também tentando enganar o real motivo da minha atitude: a minha velha esperança de interagir com outra raça inteligente num futuro promissor.

Aos poucos me aproximei, escalando no seu corpo. Ele inclinou tremulamente a cabeça, abrindo ainda mais espaço para a área do filamento. Toquei com cuidado o filamento frio e maleável. Não seria difícil uni-lo à mão mesmo, uma vez que para as dimensões humanas era mais como um cabo composto de vários fiozinhos de cobre.

— Você quer que eu junte esse fio? – perguntei a ele. Ele apenas variou a iluminação de seus faróis, com uma longa piscada. Parecia ser um “sim”.

“— E por que deveria ajudá-lo e confiar em você? O que vai fazer comigo depois? Vai me matar, como você e seus outros amigos fizeram com as pessoas do meu acampamento?

Os faróis piscaram duas vezes seguidas, bem rápido. Seria um “não”? Em silêncio comecei a unir o filamento. Eu não tinha outra escolha. Feito isso, desci do seu corpo e corri para trás da parede novamente. Enquanto seu corpo fazia estranhos barulhos internos, por precaução examinei ao meu redor e encontrei uma mini caverna, que poderiam servir para uma fuga. Deixei minha mochila preparada ao lado, caso as coisas saíssem erradas.

Depois de alguns minutos ele restabeleceu seus movimentos, levantando-se devagar. Então se dirigiu a mim e depois de emitir sons incompreensíveis, procurando uma sintonia, finalmente ele falou:

—[ Obrigado por me ajudar. E não tenha medo. Meu nome é PROWL. Escondida atrás da parede, eu ainda estava receosa e não sabia o que fazer ou dizer. Ele me observava, tombando levemente a cabeça de vez em quando, como se estivesse me avaliando.

Sutilmente, peguei minha mochila com uma das mãos atrás da parede, pensando em sair rápido pela mini caverna. Foi então que ele disse:

—[ Eu repito: Não tenha medo. Não irei machucá-la e não precisa pegar seu equipamento para fugir. Quero apenas conversar com você e responder as questões que me perguntou.

Fiquei abismada! Ele sondou meus movimentos atrás da rocha! Levantei de novo o braço escondido e vi que seu olhar se movia com discreta precisão, analisando cada parte do meu corpo que apresentasse o mínimo movimento. Então, que diferença faria se eu tentasse correr? Não havia como escapar!

Respirei fundo e saí à frente, um tanto nervosa. Ele continuou:

—[ Meu nome é Prowl, sou um Autobot e pertenço a uma raça chamada Transformers. Minha missão não é matar sua espécie. Tenho ordens do meu líder para capturar nossos inimigos chamados Decepticons. Eles tentam explorar os recursos naturais do seu mundo para nos atacar e depois tomar nosso planeta. Eles foram os responsáveis pelo ataque das duas cidades de sua raça e na área onde você e outros humanos estavam situados.

— E aqueles out...

—[ Você se refere aos outros Transformers?- respondeu ele com certeira antecipação - O menor ao meu lado é Bumblebee, um Autobot. Os outros dois são Decepticons, nossos inimigos. O maior é Soundwave, braço direito do líder inimigo chamado Megatron. O outro menor é Rumble, um soldado destinado a ataques de impacto.

— Ah sim, aquele que criou os terremotos !

—[ Exato.

Por um momento ficamos num estranho silêncio. Depois da explicação, fiquei meio tímida, sem assunto. O que conversar afinal com aquele robô gigante?

Ele me olhou com curiosidade, me analisando.

—[ Algo errado com você? –perguntou – Está com algum mau funcionamento? Vejo que você apresenta danos em sua estrutura biológica e está trêmula.

De fato, eu ainda estava toda arranhada, com frio e ainda um pouco nervosa.

— Não... Não, estou bem! – respondi – É que... Hum... eu estava pensando... eu gostaria muito de sair daqui e acho que você também precisa voltar para seu líder, não é mesmo? Sendo assim... o que você acha se nós nos ajudar-mos... você sabe, num objetivo comum.

—[ Entendo sua linha de pensamento. Concordo. – ele respondeu —[ E não se preocupe. Sou mais forte, portanto posso proteger você. Ainda possuo uma reserva média de energia graças a conexão que você restabeleceu, inibindo o vazamento de minha estrutura.

— Bem, então... vamos embora! – respondi, balançando os ombros e aceitando a situação.

Conforme andávamos, resolvi conversar com ele, contando um pouco sobre mim para tentar “quebrar o gelo”: Falei sobre minha terra natal na América do sul, da mudança para os EUA, da faculdade, etc. Mas ele não falava quase nada. Era mais um ouvinte, dividindo ainda sua atenção entre minhas palavras e ao redor da caverna. Então perguntei:

— Você sentiu muita dor com seus ferimentos?

—[ Os danos, que você denomina como dor, me causaram certa instabilidade eletromagnética desconfortável. Mas ao desligar meus sensores receptivos pude deixar meu sistema interno executar uma manutenção de emergência. E você, já desligou os seus sensores?

— Ah não, eu não posso deixar de sentir dor se eu me machucar.

Ele parou instantaneamente, abaixando a cabeça para mim:

—[ Como não pode desligar seus sensores? Então deve estar muito avariada. Tente desligar agora.

— Não! – expliquei – Nós humanos não temos nenhum dispositivo para desligar a dor. Não existe isso! Apenas temos que agüentar até irmos num médico ou ter os remédios necessários para tratar os ferimentos.

—[ Eu sabia que sua estrutura biológica era fraca, mas não que era tão falha.

Fiquei aborrecida com aquilo que ele disse e comecei a andar mais rápido.

Percebendo minha reação negativa, ele me ultrapassou, ficou a minha frente e inclinando-se disse:

—[ Desculpe se minha ponderação a ofendeu. Eu apenas analiso tudo segundo a perspectiva mais lógica.

A voz eletrônica me pareceu branda e sua postura a mais próxima de um cavalheiro. Mas eu já deveria ter aceitado que ele tem outra visão das coisas. Afinal é um robô! Acabei por acolher o pedido, com um leve sorriso:

— Tudo bem, é que é um pouco difícil aceitar ser menor e mais fraca mesmo.

—[ Não tenho muito contato com humanos, exceto e raramente com Spike

—Spike? Quem é Spike?– perguntei interessada

—[ Um humano o qual iniciamos uma breve e experimental comunicação. A maioria dos humanos ainda nos vê como uma ameaça. Porém nosso líder sustenta a teoria que um dia nós possamos ainda trocar informações e estabelecermos uma interação racial bilateral.

Então perguntei com ansiedade:

— E você Prowl, o que acha disso? Ele me olhou fixamente por alguns segundos e depois levantando a cabeça respondeu:

—[ Vocês humanos são complexos, com características que não assimilo nem compreendo como sentimentos e crenças irracionais. Mas enfim, aceito o princípio de Optimus Prime.

Ao ouvir isso, não me contive e sorri satisfeita.

E se meus olhos não estivessem me enganando, poderia até jurar que talvez ele esboçou o que seria um leve sorriso.


(continua)
[ parte 4 ]