ATB - Aliança Transformers Brasil

Era Robótica

Autora: ROSANA RABADJI ("ROSANAZUL")


— Vô! Veja o que ganhei, um Meca-F-24! O papai comprou o último modelo pra mim! Até que foi barato, estava em promoção!

— Estou vendo Bruno, é muito interessante, meus parabéns garoto!


“Meu netinho está crescendo rápido assim como a cada dia as indústrias mecatrônicas estão lançando novos modelos de andróides pessoais, um dos quais cuidará de Bruno até que ele se torne um adulto... ou até quando for decidido sua substituição por um modelo novo.

Mas essa tecnologia teve um preço: a experiência que muitos humanos tiveram da chamada “Era Robótica”. Eu me lembro muito bem...


Foi numa tarde de verão em 1987. Eu e meu vizinho Will estávamos matando aula e estragando os quintais da vizinhança. Aos 15 anos, com uma expulsão escolar e várias advertências, eu era um péssimo exemplo...

— Ei Kall, vem cá! – gritou uma adolescente escondida num beco.

Eu e Will encontramos Marissa , seu irmão e um colega.

— Aí, valeu por ajudar a gente! – respondeu Simon, o irmão.

— É... o babaca quebrou o galho. – falou Jack, com desdém.

Marissa largou por um minuto o cigarro para me agradecer com um beijo na boca. Jack ficou nervoso e com ciúmes. Eu aproveitei. É claro que se minha mãe soubesse que limpei a ficha de três delinqüentes do computador da delegacia onde ela trabalhava, ela me mataria.

— Sabe, queremos que você venha com a gente num lance bem legal. – falou Marissa para mim, mexendo em seus cabelos loiros e lisos.

— Olha, se for para invadir mais um computador, esquece...- respondi.

— Não Kall, é algo melhor – falou Simon entusiasmado – Vai dar uma boa grana! Vamos invadir a área restrita T-4.

Will logo foi se despedindo e eu não sabia o que responder. A TV já havia informado sobre as quatro áreas restritas para humanos, devido a presença dos robôs chamados Transformers e seus combates destruidores. Eu sabia que a turma queria invadir lá porque havia um carro-forte abandonado e cheio de dólares. Sabia, porque o carro tombou lá de manhã e só a delegacia onde minha mãe trabalhava tinha a informação. E porque fui eu que contei para eles de manhã.

— Sem chance, vocês estão pirando – tentei convencê-los a desistir.

— Vamos logo, estamos em quatro, porque o Will não conta, ele é um cagão.- provocou Jack – ou a menos que você queira ser um pobre filho de faxineira pra sempre, aí estamos em três e lembraremos de você depois, seu cagão, quando passarmos de carro novo.

Eu podia ter xingado Jack ou ainda fazer a ficha dele retornar à delegacia. Mas naquele momento olhei para Marissa... Seus olhos... E simplesmente aceitei ir.


Pegamos uma estrada e chegamos na área T-4. Foi fácil cortar a cerca e entrar...Não havia guardas, todos tinham medo de ficar por lá. Andamos por trilhas até chegarmos ao pé de uma montanha. Ao lado estava o carro forte tombado, numa estrada abandonada. E mais adiante e distante, a fortaleza do grupo de Transformers chamados Decepticons.

Fiquei sonhando com a grana que íamos pegar. Eu poderia comprar um som novo, uma moto, muita coisa... e poderia conquistar Marissa. Eu seria o herói dela.

— Aí – sussurrou Simon –vamos falar baixo agora e andar pelas sombras das pedras até o carro.

O silêncio naquela vastidão de terra e pedras amareladas com céu claríssimo só era quebrado por alguns sons distantes que vinham da fortaleza.

Na parte de trás do carro, as portas estavam tortas. Seria impossível abrir a tranca.

— me***!- exclamou Jack – me dá uma marreta, vou abrir isso na marra!

— Não! – impediu Simon – você vai fazer barulho e não vai conseguir. Vamos entrar pela frente.

— Falou babaca, e quem vai passar pela janelinha e pegar a grana?

— O Kall, ele é esperto e magro, consegue passar. – respondeu Marissa, pegando na minha cintura, sorrindo com charme e me olhando com confiança.

Entrei, ascendi uma lanterna dentro do carro-forte e comecei a passar o dinheiro para a turma. Arrastando os sacos pesados, voltamos até o pé da montanha e descansamos um pouco.

No momento que Simon pegava um mapa e que nós nos levantamos para ir embora, um Decepticon surgiu na nossa frente.

— Humanos tolos! – pronunciou alto o robô, avançando em direção a Jack -Vocês invadiram uma área Decepticon e Rumble agora vai se divertir um pouco com vocês.

Jack, que era impulsivo e forte, pegou uma marreta e golpeou o Decepticon várias vezes na cabeça, amassando-o e desnorteando-o. Furioso, Rumble esmurrou Jack, lançando-o longe e quebrando suas costelas. Então rotacionou suas mãos trocando-as por pesos e, batendo no chão, provocou um tremor de terra. Jack aos poucos foi escorregando por uma fenda, até sumir.

Eu e Simon conseguimos levar conosco um pouco de dinheiro dentro da roupa. Quando olhei, Marissa tinha ficado para trás, ainda carregando um saco de dinheiro pela metade.

Tentei voltar para buscá-la, mas Simon me segurou e me puxou, quando um jato desceu do céu transformando-se em outro robô.

— Ora, que temos aqui, uma fêmea humana! – indagou com ironia o robô, agachando-se e cercando Marissa. – Está tão ansiosa em levar esses pedacinhos de matéria pobre junto com você?

— E-eu...Eu quero ir embora! – gaguejou Marissa, tentando escapar assustada – Olha, eu só vim aqui para buscar esses papeizinhos, nunca mais vou voltar aqui, eu prometo! P-Por favor, deixa eu ir embora!

— Você sabe quem eu sou? Eu sou Starscream! E você é um inseto insignificante! Você quer ir embora? Hum, eu acho que não...

Então Starscream pegou Marissa e a envolveu com o saco de dinheiro. Aos poucos sua mão foi fechando e os gritos de Marissa foram aumentando e se abafando, até que ao cessarem um grande fio de sangue escorreu de dentro da mão metálica.

Mesmo com bastante distância, eu vi quando o grupo Decepticon se reuniu e seu líder fez um sinal para que um deles atirasse em nós. Um fino raio laser atingiu a perna de Simon, que sangrou sem parar.


Corremos de volta até o limite da área T-4, pegamos a caminhonete para voltar à cidade. Enquanto Simon queimava de febre, eu dirigia com ódio e sofrimento. Limpei minhas lágrimas com parte da camisa e do dinheiro roubado. Eu poderia agora comprar um som novo, uma moto... Mas nunca mais conquistar Marissa. Eu não fui um herói.

Simon decidiu ir sozinho para um hospital e disse às autoridades que foi acampar com Marissa e Jack. Ele não me incluiu na história. Eu contei tudo para Will, que me deixou dormir na sua casa naquela noite, o que poupou minha mãe da maior decepção de sua vida.

Os anos se passaram e com o dinheiro decidi estudar e arrumar minha vida: me tornei professor de Informática e Tecnologia. Simon se recuperou bem da amputação de sua perna direita e foi para a Austrália. Nunca mais o vi.

Ao longo dos anos, para combater os Decepticons, vários países acataram acordos com o líder Autobot Optimus Prime. Em troca, a humanidade recebeu proteção e conhecimento suficiente para desenvolver uma inovadora tecnologia. Anos depois, a maioria dos Transformers voltou para seu planeta de origem, onde continuam sua guerra. Poucos Autobots ficaram na Terra. Bem escondidos, fazem apenas monitoramento.


O preço pago pelos andróides pessoais de meu neto ou pelos campos de força que agora envolvem e protegem a Terra custou muito caro. Tudo começou na chamada “Era Robótica”. Eu me lembro muito bem...”


FIM