ATB - Aliança Transformers Brasil

Complexo de Prime

Autor: VICTOR OLIVEIRA DE FARIA


Da ponte de comando, era possível observar as luas de Cybertron. Uma dessas luas era a Terra. Tão distante e tão perto. As montanhas metálicas cortavam o horizonte, escondendo parcialmente o astro-rei. Ali era uma espécie de mirante para todo o resto do planeta. De lá era possível observar os operários trabalhando, as variadas formas de vida indo e vindo e algumas pequenas revoltas sendo contidas.

Nesta cabine de observação estava um ser, já cansado de seus dias e aparentando estar alheio à tudo. Seu nome era famoso e foi passado por várias gerações. Mas, era apenas um nome. E, por incrível que pareça, ele estava cansado de carregar esse fardo.

- Não quero mais ser um “Prime”... – Optimus.

A repentina declaração fez com que seus companheiros se assustassem.

- O que foi que você disse?

- Estou cansado. Cansei de ver guerras sem sentido apenas para manter o nome de uma facção reinante.

- Mas Prime! Nós somos responsáveis por manter a paz de Cybertron!!

- Somos mesmo? Você já parou para pensar, que se um Prime desistisse de tentar impedir os Decepticons, muitas guerras e perdas incontáveis teriam sido evitadas? O problema é a nossa teimosia...

- Optimus! O que houve com você? Você não é assim! Se não fosse nossa “teimosia”, muito mais já estaria perdido.

- Nós somos um mecanismo complexo. Nós não podemos viver sozinhos. É preciso que haja um equilíbrio. E isso inclui deixar os Decepticons existirem.

- E as guerras?

- Existem porque nenhum dos lados quer ceder. Quantos sacrifícios poderiam ter sido evitados se simplesmente entrássemos em um acordo.

- Acordo? Com os Decepticons?

- Eles estão mais perto da unificação do que nós. Nós somos as forças que agem ao contrário, fomentando ainda mais as revoltas.

- Unificação sob uma tirania?

- Estou falando a respeito dos Decepticons e não de Megatron. Muitos o seguem porque ele assumiu o posto de líder e ninguém pode questioná-lo. Mas, alguma vez você já ouviu a opinião de um Decepticon a respeito de tudo isso?

- Não dá tempo. Sempre estamos debaixo de uma artilharia pesada.

- Exatamente. E por culpa de quem?

- Não concordo com isso, Optimus.

- “A liberdade é um direito de todos os seres vivos”. Já ouviu falar nisso, não é?

- Mas é claro! Essa frase é sua, como nosso líder!

- Lembra do que eu mencionei antes? Como estou no posto de líder, vocês não me questionam. Exatamente como Megatron. Portanto, a partir de hoje, não serei mais um “Prime”. Apenas “Optimus”, um ser cuja centelha faz parte da Matriz, que por sua vez, deu vida a tudo. Somos uma família, você gostando ou não. Adeus...

- Prime! Espere!

- Não sou mais digno de carregar esse nome.

De repente, a ponte de comando escureceu. Os Autobots que ainda estavam lá dentro ficaram sem saber o que dizer. No horizonte, o Sol estava se pondo. O crepúsculo que se seguiu, se pudesse expressar sentimentos, exibiria uma aura triste, num dia obscuro para toda a história cybertroniana.

Após uma semana...

- O que faremos sem o Optimus agora?

- Nosso trabalho. Como sempre. Prime queria a paz, mas por meios diplomáticos, como diriam os humanos. Mas os Decepticons a querem pela força. Enquanto eles trabalharem neste sentido, estaremos trabalhando no sentido contrário.

- Bem com Prime disse.

- Você também Hot Rod?

- Magnus. Pense. Por mais que não gostemos da situação, ele está certo. Os Decepticons não são tão diferentes de nós. Apenas estão procurando a paz por meios errados. Mas eles também a querem. E acima de tudo, temos todos a mesma origem.

- Talvez você tenha razão. Mas como iremos “conversar” com um Decepticon?

- Removendo Megatron de seu posto. É o único jeito.

- Você está querendo dizer que Optimus fez isso de propósito?

- De que outra maneira ele faria isso? Nós somos tão teimosos como os Decepticons.

- É, talvez tenha razão. Mas, para tirar Megatron de seu trono, teremos de usar a força bruta. Pelo menos por enquanto. Nós iremos fazer uma votação e iremos escolher um novo líder.

- Não precisamos. “Até que todos sejam um”. Esqueceu do que foi dito e celebrado no dia em que nos livramos do Unicron?

- Sim. Agora entendo. Não precisamos de um líder, e sim de “união”. Optimus tentou nos ensinar isso tantas vezes, e ele precisou deixar seu posto para entendermos. Ser líder deve ser difícil. E ainda mais ser um “Prime”, um transportador da essência da Matriz. Acho que Optimus realmente precisava de um descanso...

Após um ano...

Megatron caiu e foi expulso do planeta Cybertron. Os Decepticons demoraram a entender a atitude repentina dos Autobots, mas, sem seu líder tirano, puderam entender melhor o que estava acontecendo ao redor. Assim como Optimus previa. Os dois supremos líderes de Cybertron foram destituídos de seus cargos, e com isso, o povo cybertroniano pode pensar.

Após muitas reuniões e disputas resolvidas – visto que o espírito de guerra demorou a desaparecer – foi assinado um tratado de paz. Ficou conhecido mundialmente por “Pax Cybertronia”. Exatamente o que Optimus havia desejado há tanto tempo. Mas onde estaria Optimus durante todo esse tempo? Por que ele não apareceu para celebrar junto de seus amigos o que tanto desejara?

Como Ultra Magnus havia dito, era extremamente difícil o cargo de um Prime, apesar de não parecer. Ele carregava consigo uma parte de toda a essência de Cybertron e sua missão principal era protegê-la a todo custo.

- Optimus não desistiu de ser um Prime. Eu sinto isso. Ela apenas nos delegou a responsabilidade de cuidar de Cybertron, como povo unido, enquanto ele cuida de nossa “existência”.

- É, mas vou sentir sua falta.

- Ele deve estar por aí Hot Rod. Nós é que não percebemos. Estávamos tão acostumados a ver ele como líder, que não conseguimos ver o que há ao nosso redor.

- O que você quer dizer?

- Ele estava no dia em que foi assinada a “Pax Cybertronia”.

- Estava?

- Sim. Não é verdade, Optimus Prime?

Uma sombra saiu de seu esconderijo e partiu com um sorriso em direção ao horizonte. Lá, perto de uma montanha contendo minérios de Cybertron, ele parou. Sacou seu machado com ponta de Energon e continuou satisfeito seu trabalho de operário de minas.

Não se sabe ao certo, mas daquele dia em diante, aquele montanha parecia brilhar sobre as demais, como se algo “transcendente” estivesse escondido ali. Um dia, quem sabe, algum cybertroniano - um operário – descubra o que está escondido ali e continue a missão dos Primes – ser o eterno guardião da Matriz da Criação, ou, em como é dito em outras línguas, “AllSpark”.



FIM